Todas as noites eu ainda sonho com meu parto. Com o parto que nunca tive. Todos os dias vivo o luto do não parir, e a cada lembrança vivo às margens de um sonho que nunca se realizou. Não por falta de algo, mas talvez por falta de tudo. Hoje, eu te conto sobre o dia que eu nao pari.
19 de maio de 2018 - 7:20
Começaram as dores, as mais fortes que eu já havia sentido. Doía no ventre, regorgizava no peito. Sabíamos que ele ia chegar.
Minha ansiedade estava pra acabar, chegou o grande dia, e a explosão de emoções que eu aguardava estava apenas por começar.
16 de maio de 2018 - 20:00
Subir e descer escadas, dançamos juntos, pedi pra ele vir me encontrar.
Dormi, e como todas as noite sonhei com o momento de partejar. Lágrimas de emoção embalavam meus sonhos, ansiedade me consumia. Faltava pouco.
20 de maio de 2018 - 18:00
Meu coração sentia a chegada dele cada vez mais perto. A certeza e a ansiedade se misturavam com o medo de uma maior espera. Quanto mais intensas e ritmadas ficavam as dores, maior era a nossa alegria. Chegou a hora. Chegou o dia.
De mala e cuia tiramos nossa última foto sozinhos em casa, indo pro hospital buscar o amor das nossas vidas.
Eu, me sentia no filme que eu sempre sonhei estrelar. Minha luz contaminava, queria que todos me vissem, e descobrissem quem eu estava por encontrar, chegou a hora de trazer ao mundo alguém que outro igual eu jamais iria amar.
Na minha cabeca passava um turbilhão de emoções, só de imaginar. O seu prmeiro choro, o seu rosto, o seu calor ao sair de dentro de mim. Ansiei por experimentar a maior das dores pelo mais forte dos amores, a transformação e emoção de ver nascer a vida. Minha vida, que a partir de então, um coração que bateria fora de mim.
27 de março de 2018 - 15:30
Eu tinha acabado de chegar do Brasil. Depois de uma gravidez de solidão, medos e muitas lágrimas, fui buscar forças no meu ninho, e relembrar, que psicologia nenhuma poderia se comparar ao que lá fui encontrar.
Achei o amor que cuida, prepara, protege, achei o amor que cura.
Amei e fui amada. Voltei curada.
Meu medos foram abraçados, e apagados.
E eu voltei pronta pra viver o maior dos milagres.
Meus receios se transformaram em sonhos.
Provei uma dose do amor que eu seria em breve capaz de dar.
21 de maio de 2018 - 05:00
Arrancado de dentro de mim, num quarto frio, com luzes que cegam qualquer olhar. Eu entubada nao pude assitir o que ali estava a passar. Nao vi, nao chorei, nao senti. Cortaram um pedaço meu, tiraram meu filho e meu renascer. Roubaram meu sonho de ve-lo nascer.
20 de maio de 2018 - 23:30
Demos entrada no hospital, 2 cm de dilatação. Após o cardiotoco, veio a confirmação. Chegou a hora, que alegria, acelera o coração.
No quarto, na bola, eram 02:30 da manhã, e as dores me faziam chorar, eu me olhava no espelho com a intenção de memorizar a emoção daquele dia. O prazer do renascer me possuía.
4 cm de dilatação, celebramos apesar das dores aumentando. Em duas horas a leoa que existe dentro de mim me possuiria. Eu sentia meu bebê se empurrar pra chegar.
Nao saí mais do banheiro, o médico de plantão disse que era sinal que meu filho estava por me encontrar, mas a dor, ja me vencia. Entre gritos e urros, cantos de dor cheios de amor, eu pedi pra parar "Meu Senhor", e me levaram pra uma sala fria e vazia, pra fazer me “um favor”.
21 de maio de 2018 - 05:30
O amor nasceu.
Hoje, não há um so dia que não durma sem sonhar, ou viva um segundo sem imaginar, o que de mim seria, se algo tivesse sido diferente naquele dia.
Se eu nao estivesse lá, se eu não estivesse sozinha, ou se no meu momento de vulnerabilidade maior a humanizacão e o respeito ás minhas vontades tivessem prevalecido.
Infelizmente o “se” não existe, no tempo não podemos voltar, e até um dia viverei a dor de pensar em como seria…poder ter vivido e visto meu filho chegar.
A cada relato, fotos e contos de parto, me vejo sofrendo no sonho que me foi tirado.
Entubada, anestesiada e vendada, sonhando com o parto que nunca tive, com uma cicatriz que nunca desaparecerá, será? Até hoje sem saber, se foi do destino o querer, violência ou cortesia.
